Um lugar para conhecer que ajuda a preservar…
O Instituto Manacá é uma Organização da Sociedade Civil, que atua na conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica, com maiores esforços voltados às espécies ameaçadas de extinção. Está localizado na Fazenda Elguero, município de São Miguel Arcanjo, interior do estado de São Paulo.
Entre as diversas atividades que exerce, a instituição é responsável pela gestão da RPPN Trápaga, uma Unidade de Conservação de 70 hectares, criada principalmente para a proteção do mico-leão-preto, primata endêmico da Mata Atlântica do Estado de São Paulo e ameaçado de extinção.
A floresta da RPPN Trápaga é contígua ao Parque Estadual Carlos Botelho, compartilhando assim sua rica biodiversidade. O local compõe o Continuum Ecológico do Paranapiacaba, um dos maiores e mais bem preservados remanescentes da Mata Atlântica.
A RPPN Trápaga é palco de diversos projetos do Instituto Manacá, onde lá são realizados projetos de pesquisa científica, monitoramento da fauna, turismo de natureza e educação ambiental. Além do grande número de espécies que podem ser observadas na reserva, o local oferece diversas atividades de lazer e apreciação da natureza, entre elas a observação de aves, mamíferos, répteis e anfíbios.
Objetivos e áreas de atuação do Instituto Manacá:
Conexão com os propósitos do lugar
- (1) Ampliar o conhecimento sobre os recursos naturais por meio da PESQUISA CIENTÍFICA para gerar subsídios para a conservação da biodiversidade;
- (2) Criar e desenvolver ÁREAS PROTEGIDAS na Mata Atlântica, para manter sua biodiversidade e preservação das Florestas;
- (3) Proporcionar experiências de integração do ser humano com a natureza de forma sustentável, por meio do TURISMO ECOLÓGICO;
- (4) Educar as pessoas, por meio da EDUCAÇÃO AMBIENTAL, para se tornarem cidadãos conscientes e críticos sobre os recursos naturais;
- (5) Capacitação de alunos e moradores das comunidades do entorno das Unidades de Conservação para oportunidades de GERAÇÃO DE RENDA;
- (6) AMPLIAÇÃO DE CONHECIMENTO com cursos e estágio para formação de protagonistas na conservação da biodiversidade.
Ameixeiras da Fazenda Elguero
Em Junho de 2021, tive o grande prazer de conhecer a Fazenda Elguero. Iniciamos a minha visita com uma prazerosa caminhada pelas ameixeiras, por onde as antas costumam circular, e depois fomos conhecer uma antiga destilaria, um antigo casarão que guarda um alambique que produzia cachaça provinda da plantação de caqui que havia ali. Um momento que misturou diversão cultural e conhecimento do patrimônio local.
Logo após percorrer por este lado da Fazenda, fomos caminhar pelas lindas trilhas que a RPPN Trápaga, reserva para a prática de Turismo de Natureza.
Trilhas para prática de Turismo de Natureza e Observação da Fauna no Instituto Manacá
- Trilha Tangará-dançarino: Com 1,2 km, possui um tempo médio de percurso de 1h30 min de caminhada, com grau de dificuldade fácil. Essa trilha é indicada para crianças.
- Circuito Vale das Arapongas: Possui um percurso de 2,7 km, com uma média de 3 horas de caminhada com grau de dificuldade médio.
- Trilha da Anta: Possui um percurso de 2,2 km, com uma média de 1h30 de caminhada com grau de dificuldade fácil. Essa trilha também é indicada para crianças.
Provavelmente você já é praticante de turismo de natureza e já deve ter feito passeios com observação de aves – (birdwatching). Aproveito para te perguntar, alguma vez já fizestes algum passeio de observação de antas – (tapirwatching)? Para te dar um gostinho dessa atividade, queremos compartilhar um pouquinho mais sobre esse incrível animal…
Saiba mais sobre a Anta (Tapirus terrestris)
Conhecida como a Jardineira das Florestas, a Anta (Tapirus terrestris), é capaz de espalhar grande diversidade de sementes, fungos e matéria orgânica num percurso de pelo menos 20km por dia. A anta é parente de rinocerontes e cavalos, portanto são animais bastante fortes, com três dedos nas patas traseiras e um adicional nas dianteiras;
Apresentam hábito crepuscular/noturno, deixando seus esconderijos para forragear (busca de alimentos debaixo de folhas gravetos, revirando a terra em busca de alguma fonte de proteína). Alimentam-se de frutos, folhas, caules, brotos, grama, organismos aquáticos e pastam em plantações de cana, melão, cacau, arroz… E foi a espécie com maior frequência de consumo de frutos de Cambuci, Araçá e Goiaba. Constituem-se, dessa forma, como importantes veículos de dispersão de sementes. Vivem solitárias, exceto no período de reprodução ou amamentação. O macho atrai a fêmea através de vocalizações que mais parecem estridentes assobios! Elas emitem diferentes tipos de vocalizações, com seus respectivos significados. O guincho estridente demonstra medo, apaziguamento e dor; o estalido, utilizado na identificação de indivíduos da mesma espécie; e o bufo, emitido quando o animal está agressivo.
Seus predadores, além do homem, são as onças-pintadas. Quando acuada, se esconde no meio da mata ou mergulha. Tendo os rios como um importante recurso para fuga, defecação e controle da temperatura corporal.
Pegadas de anta Latrina da anta
Suas principais ameaças são:
- Desmatamento, causando alteração e fragmentação do habitat
- Caça
- Fogo
- Atropelamento em estradas;
- Conflito com áreas produtivas;
- Doenças infecciosas provindas de animais domésticos
- Extração de recursos naturais
E devido a esses fatores, novos projetos nascem com um propósito de cuidar melhor das interconexões e interfaces do cenário atual.
Qual a pegada que estamos deixando atualmente?
“Acelerar mudanças positivas no meio ambiente é necessário para garantir a existência continuada dos ecossistemas naturais. A terra têm um limite na sua capacidade de suporte da população, assim como na capacidade de produção de recursos. Ela também não consegue absorver toda e qualquer poluição. E por isso está precisando de nossa ajuda. Temos dois caminhos a escolher: nos omitir e não agir para mudança, ou usarmos nosso poder para intervir no mundo, assumindo a responsabilidade de cuidar do planeta e trabalhar para barrar a destruição.” Lucia Legan
Assim como assumimos responsabilidades com atitudes para cooperar com um mundo melhor, podemos também escolher nossos destinos proporcionando encontros que favorecem mais tempo para si e também mais tempo para se conectar com a natureza intrínseca do território, fazendo um mergulho de encontro com a essência do lugar.
Para se conectar com a essência do lugar, podemos olhar para o Projeto Anta que nasceu em 2014 com a vocação singular e contribuição para a necessidade de avaliar o estado de conservação da espécie na região em que está inserida.
Quando nos relacionamos com sistemas vivos, temos a oportunidade de olhar com a intenção de uma nova forma de fazer turismo, não só visitando o local, mas por meio da experiência de Tapirwatching, cooperando com a pesquisa científica, ampliando a sensação de pertencimento, se integrando com o ecossistema e com as espécies que ali poderá encontrar, facilitando os estudos desenvolvidos pelo Instituto Manacá de compreender as interações entre as pessoas e as antas, para assim atuar com sua potência na mitigação dos conflitos e fomento da coexistência harmônica para equilíbrio da natureza.
A observação de mamíferos ocorre em uma área de produção de ameixas onde a anta é o principal atrativo, ou também no Hide, um esconderijo (pequena cabana de madeira) feito estrategicamente em meio à floresta, espaço frequentado por uma ampla diversidade de espécies de aves e mamíferos.
Hide Visão do Hide
Além da observação da avifauna e da mastofauna, a RPPN conta também com a atuação de outros profissionais e a realização de outras atividades como a observação da herpetofauna (anfíbios e répteis). Você já ouviu falar em Herpswatching?
Herpswatching
A palavra “Herps” deriva da herpetologia que é o estudo de anfíbios e répteis. Neste caso ela se refere informalmente aos membros deste grupo faunístico. O herpswatching trata da observação de anfíbios e répteis, um hobby originalmente que foi mais restrito às aves. O Birdwatching surgiu na Inglaterra no século XVIII e hoje recruta milhões de adeptos, principalmente nos Estados Unidos e Europa. No Brasil, além do Birdwacthing, o Herpswatching também tem conquistado um grande número de adeptos, onde atualmente são conhecidas 751 espécies de anfíbios e 625 de répteis, sendo muitas destas espécies abundantes e de fácil observação.
Por isso gostaria de te apresentar nosso mais novo parceiro, Bruno F. Fiorillo, biólogo e especialista em ecologia e história natural, é fundador da Herp Trips, empresa especializada na observação da herpetofauna. O Bruno também desenvolve uma pesquisa sobre a estrutura das comunidades de anfíbios e répteis na RPPN Trápaga, em parceria com o Instituto Manacá. O estudo visa testar a correlação entre um Índice de Integridade Biótica (IIB) da vegetação previamente mensurado na Reserva Particular do Patrimônio Natural Trápaga e a diversidade de anfíbios anuros e répteis da ordem Squamata.
A Herp Trips oferece passeios de 3 a 5 dias para realização de herpswatching. As atividades são realizadas geralmente no período noturno com caminhadas para observação de anfíbios e répteis. Com duração de 2 horas, das 19h às 21h, essas atividades ocorrem somente durante o verão, de Outubro a Março.
Durante o trajeto, os participantes são instruídos sobre a biologia geral das espécies encontradas e sobre as melhores maneiras de fotografá-las. Já imaginou se conectar de uma forma mais aprofundada com os seres que encontrarem durante essa caminhada? Há sempre um aprendizado a cada caminho cruzado entre os seres humanos e não humanos.
Nosso compromisso é promover experiências como estas, que envolvem uma mistura de turismo científico, de experiência e de natureza e que te auxiliam no desenvolvimento da capacidade de não só sentir o lugar, mas que também proporcionam uma co-evolução junto ao potencial da cultura e da natureza do lugar.
O que faz possível a mudança para um paradigma regenerativo é o poder da conexão entre as pessoas e o lugar. Somos todos organismos vivos, habitantes do planeta Gaia, facilitar, conectar e desenhar experiências de Turismo Regenerativo é o que mais amamos fazer. Cooperar para que impactos positivos ao local visitado se unam a sua experiência, resultando em momentos memoráveis para toda uma vida.
Vamos juntos? Trilhe por caminhos que ekoam mais vida para todos nós!
Referências:
Educação Ambiental na Mata Atlântica – Isabelle Vichi, Mari Landis – São Miguel Arcanjo: ONG Instituto Manacá, 2021.
Guia Ecoturístico de São Miguel Arcanjo e região − Bruno F. Fiorillo − São Miguel Arcanjo: Herp Trips, 2021.
Sentir el Lugar (Sense of place) – Turismo Regenerativo, 2021.