Vivemos em tempos que clamam por mudanças significativas, uma transição para uma abordagem mais holística e integrativa em relação ao nosso mundo e à forma como o encaramos. Nesse cenário, surge a proposta do “Bem Viver”, uma visão alternativa que busca romper com paradigmas extrativistas e desenvolvimentistas, propondo uma abordagem mais humana e amigável à natureza. Mas afinal, o que é o Bem Viver e como ele se diferencia das alternativas existentes?
1. Visão do Todo ou Pacha: A Interconexão de Tudo
O Bem Viver fundamenta-se na cosmovisão andina, mais especificamente na ideia de “Pacha”, que vai além de ser uma referência à Mãe Terra. Pacha abrange não apenas o mundo dos humanos, animais e plantas, mas também o mundo de cima (hanaq pacha) e o mundo de baixo (ukhu pacha). Nessa perspectiva, tudo está interconectado, formando uma unidade onde passado, presente e futuro coexistem. O desafio é compreender que somos parte integrante desse organismo vivo, onde cada ação repercute em todo o sistema.
2. Convivência na Multipolaridade: Indivíduo, Comunidade e Natureza
O Bem Viver propõe uma bipolaridade ou multipolaridade, onde o indivíduo e a comunidade são polos de uma mesma unidade. A existência humana depende da inter-relação, e o desafio está em aprender a se interconectar. A polaridade entre indivíduo e comunidade está intrinsecamente ligada à polaridade maior entre humanidade e natureza. Assim, o equilíbrio é buscado não apenas a nível individual, mas sim na harmonia entre as partes que compõem a comunidade da Terra.
3. Busca do Equilíbrio: Ciclos e Transformações Constantes
O Bem Viver reconhece que tudo na vida se move em ciclos, com pontos de chegada e partida para novos desequilíbrios e transformações. A busca não é por um paraíso utópico, mas sim pelo bem-estar e equilíbrio ativo do todo. O papel humano é ser uma ponte, um mediador na busca dessa harmonia, cultivando a sabedoria proporcionada pela natureza. O desafio não é acumular mais, mas sim harmonizar as diversas partes da comunidade terrestre.
4. Complementaridade da Diversidade: Articular Experiências e Conhecimentos
No Bem Viver, a diversidade é vista como complementaridade, onde a articulação de experiências, conhecimentos e ecossistemas é valorizada. Ao contrário da competição, que gera vencedores e perdedores, a busca é pela combinação de forças. Quanto mais se articula com o outro, maior é a resiliência individual e coletiva. O reconhecimento das possibilidades que a diversidade traz é fundamental para o equilíbrio do todo.
5. Descolonização: Libertação de Sistemas Opressivos
Descolonizar-se no Bem Viver implica desmantelar sistemas políticos, econômicos, sociais, culturais e mentais opressivos. Isso envolve liberar mentes e almas capturadas por conceitos falsos e alheios, encerrando opressões de gênero, raça, sexualidade e nacionalidade. É um processo de ruptura que busca construir coletivamente uma sociedade emancipada e pós-capitalista, em harmonia com a natureza.
Neste momento de ascensão, o Bem Viver representa uma libertação amorosa e a compreensão da divindade interna. O espírito comunitário e o cooperativismo são vistos como expressões da liberdade humana, indicando que, passo a passo, podemos caminhar juntos em direção a uma sociedade integrativa, livre de exploração e em harmonia com a natureza. É um convite para repensar a abundância de forma coletiva e construir uma realidade mais sustentável e equitativa para todos.