O que você entende por Regeneração?
Vamos começar esta investigação pelo Universo da Regeneração juntos propondo um exercício simples. Tente agora fazer uma varredura mental e trazer a superfície do seu campo de visão interior todas os possíveis significados que essa palavra possa suscitar em você, e como um relógio que segue ininterruptamente em seu tic-tac deixe essa palavra martelar em sua mente: REGENERAÇÃO, REGENERAÇÃO, REGENERAÇÃO.
Adentrar no universo das palavras e dos seus significados é uma tarefa que além de uma profunda reflexão, exige um entendimento que se dá pela alfabetização naquela linguagem. A humanidade construiu para si, muitos signos e palavras que são transmitidas em um processo educacional de transferência de saberes e significados que unidos comunicam realidades que são reais, virtuais, observadas ou construídas.
A regeneração por ter um universo de significados, vontades, modos de fazer e de ser no mundo pode ser ampliada e percebida como um paradigma. O paradigma da regeneração é, portanto, um modo de se relacionar com a realidade, um modo de se relacionar com a vida. Ver por este paradigma, pode criar um novo modo de relacionamento que ganha espaço, amplitude e significado ao nos tocar de modo íntimo. Regenerar passa pelo viés da pessoalidade, da unidade que cada um é.
Voltando a pergunta que iniciou este texto, o que surgiu para você? Talvez a imagem do crescimento da cauda de uma salamandra, como aprendemos no Ensino Médio? Também, talvez fazendo um exercício ainda aprendido na escola de cortar palavras para entender seu significado, cortamos em duas essa inteireza que é a re-generação, e assim é possível construir um significado que é parecido como algo a: “gerar novamente”, ou de recomeçar algo que já fora gerado antes. Carregue esse significado com você, pois ele é muito importante.
De qualquer forma um significado vai sendo construído quanto mais informações temos sobre ele. E talvez este seja o nosso objetivo com este texto que se inicia com: Bem vindos a regeneração. Se regenerar é trazer uma nova vida a algo que já existia antes, o convite é que você venha com a sua bagagem intelectual e suas vivências sobre o que algo é, e junto a essa sua visão novos elementos que já foram profundamente investigados por outros olhares possam se juntar e assim construir uma integralidade que fala de uma visão e de uma essência comum.
Portanto, trazendo algumas conceitualizações já consagradas na literatura, podemos começar explorando a regeneração como um conceito chave na biologia que é definida neste contexto como sendo a capacidade dos tecidos, órgãos ou mesmo organismos se renovarem ou de se recomporem após danos físicos consideráveis.
A ecologia expande a escala da definição e traz a regeneração como sendo também a capacidade de ecossistemas inteiros retomarem um caminho de recuperação após um distúrbio severo.
O que talvez não seja tão óbvio é que todas as espécies são capazes de regenerar-se, desde bactérias até humanos, em diferentes níveis e formas. E o que talvez seja menos óbvio ainda é que sistemas humanos — cidades, empresas, coletivos e etc — são sistemas vivos e estão sujeitos aos processos naturais de regeneração e degeneração.
John Dewey, citado por Lyle (1994), observou que “a distinção mais notável entre coisas vivas e não-vivas é que as primeiras se mantêm por renovação”. De fato, Maturana e Varela cunharam o termo autopoiesis para dizer que a principal característica da vida é a sua automanutenção a partir de processos químicos capazes de continuamente renovar e reproduzir a si mesmo dentro de uma fronteira de fabricação própria (Capra e Luisi, 2014). Ou seja, organismos vivos são capazes de regenerar-se a partir de si mesmos.
Neste sucessivo revelar-se de novos entendimentos para a ideia de regeneração começamos a perceber que regenerar significa recobrar a vitalidade, viabilidade e a capacidade para a evolução de sistemas vivos (Regenesis, 2016).
John Lyle, em seu livro Regenerative Design for Sustainable Development (1994), expande esta ideia para o ambiente construído e afirma que “um sistema regenerativo permite a reposição contínua, por meio de seus próprios processos funcionais, da energia e dos materiais utilizados em sua operação”. De forma brilhante, Lyle amplia nosso olhar e coloca que “a regeneração tem a ver com o renascimento da própria vida, portanto, com esperança para o futuro”.
Portanto o Paradigma Regenerativo vai buscar viabilizar um meio onde esta esperança para o futuro começa a ser construída no hoje, a partir da liberação que damos aos sistemas vivos de continuar na tarefa que lhes é essencial de expressar mais de si mesmos, gerando mais vitalidade para os sistemas que os contêm e para os sistemas em que estão contidos.
Sobre a urgência deste paradigma a doutora em ecofilosofia Joana Macy traz uma abordagem que fala de algo muito semelhante em seu livro Esperança Ativa, trazendo uma abordagem de Ecologia Profunda a autora escreve: Nós vivemos em um tempo em que o corpo vivo de nossa Terra está sob ataque. E este agressor não é uma força extraterrestre, mas nossa própria sociedade de crescimento industrial. Ao mesmo tempo, um processo extraordinário de recuperação está em andamento, uma resposta criativa e vital ao que chamamos de A Grande Virada. A autora ainda acrescenta que cada um de nós tem algo a oferecer, quando enfrentamos o desafio de desempenhar nosso melhor papel, descobrimos algo precioso que enriquece nossas vidas e que contribui para a cura do nosso mundo (Esperança Ativa, 2012)
Portanto, a compreensão de regenerar o mundo anda de mãos dadas com a regeneração que se dá em nós mesmos. A cura do mundo, existe através de nós. Aliás, você sabia que cada um de nós é uma célula desta unidade que é Gaia, nossa casa e nosso planeta Terra?
Chegamos ao fim deste começo do qual você é muito bem-vindo. O convite para a investigação segue se aprofundando, e algumas questões são sugeridas para fortalecer este suporte investigativo. Pergunte-se:
- Quais reflexões a leitura deste texto suscitou em mim?
- O que passo a reconhecer a partir de agora que ainda não havia considerado?
- Como a regeneração começa em mim neste momento?
Referências Bibliográficas
- Fritjof Capra e Pier Luidi Luisi. The Systems View of Life: A Unifying Vision. Cambridge University Press, 2014.
- John Lyle. Regenerative Design for Sustainable Development. Wiley, 1994.
- Regenesis Group. Regenerative Development and Design: A Framework for Evolving Sustainability. Wiley, 2016.
- Joanna Macy e Chris Johnstone. Esperança Ativa: Como encarar o caos em que vivemos sem enlouquecer. Bambual, 2012.