Programa de Conservação da Palmeira Juçara

Solstício de inverno e inauguração do Programa no Vale do Ribeira

Vale do Ribeira

No dia 21 de Junho de 2021, ocorreu o solstício de inverno, um evento que marca a noite mais longa do ano. A partir desta data, as noites ficam gradualmente mais curtas e os dias mais longos. O ápice da escuridão e do recolhimento que antecede a expansão. E foi neste momento, que aconteceu a inauguração do Programa de Conservação da Palmeira Juçara. Uma ação de repovoamento através da dispersão das sementes no Parque Estadual Carlos Botelho (PECB), Núcleo de Sete Barras. Localizado no município de Sete Barras no Vale do Ribeira, interior de São Paulo.

Neste dia de esperança, do retorno da luz e do renascimento, tivemos a grande sorte de estar presente neste evento. Momento de virada de estações, quando a natureza nos ensina a deixar ir o que não mais precisamos como antigos padrões, para que possamos sobreviver e renascer a cada novo ciclo. Assim como na natureza, um movimento de renascimento e de ressignificado para a conservação dessa árvore que é tão preciosa para tantos seres e habitantes da Mata Atlântica. Uma tentativa de salvar a espécie de extinção. E que melhor momento senão este para a semeadura do Programa de Conservação da Palmeira Juçara?

Uma incrível missão da Fundação Florestal para proteção da flora e fauna em diversas Unidades de Conservação no estado de São Paulo. Mas você já se perguntou qual a real importância dessa espécie?

A bela, imponente e cobiçada Palmeira Juçara

Euterpe edulis

A Palmeira Juçara, também conhecida como Jiçara ou Jussara é uma das árvores nativas da Mata Atlântica brasileira mais ameaçadas de extinção. Pertencente à família Arecaceae, com origem na América do Sul (Argentina e Paraguai). No Brasil, nativa desde o Sul da Bahia e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, na Mata Atlântica, gosta de luminosidade a meia sombra e busca sol pleno. Espécie refém da ação predatória dos chamados “palmiteiros” que adentram a mata em busca do palmito − miolo comestível do tronco da Juçara. Estudos apontam para a diminuição em 30% da população da espécie em 60 anos.

A Juçara apresenta crescimento lento, levando de 8 a 12 anos para atingir a idade adulta e produzir um palmito. É somente após 10 anos que começa a dar frutos. Um fato importante de lembrar é que enquanto continuarem a chamar a árvore de “Palmito Juçara”, sua característica de exploração pela função da extração do palmito, seguirá presente no inconsciente coletivo. É por isso que todas as vezes que ouvir alguém chamando a árvore da Juçara de Palmito, pode-se sugerir a alteração e ressignificado para Palmeira Juçara.

A inflorescência surge na primavera e verão e é do tipo panícula, com abundantes flores femininas e masculinas. Os frutos que se seguem são drupas, negras quando maduras, e muito atrativas para a fauna silvestre. É uma árvore de eleição para recuperação de matas ciliares e outras áreas de reflorestamento da Mata Atlântica que já estejam povoadas com espécies pioneiras.

 A preservação da Palmeira Juçara está diretamente ligada à manutenção da biodiversidade da Mata Atlântica. A sua extração é proibida por Lei 9.099/1995. artigo 46, caput, e parágrafo único, da Lei dos Crimes Ambientais. A pena é de detenção de seis meses a um ano e multa.  

O extrativismo ilegal do palmito permanece e agrava ainda mais sua condição de espécie em extinção. É preciso que a sociedade se conscientize que esta Palmeira não deve ter seu palmito consumido, pois ela é de extrema importância ecológica e a extração deixa seqüelas graves na floresta. Deve-se lembrar também que o consumo do palmito de juçara é um risco à saúde, devido ao precário e errôneo processamento que palmiteiros ilegais dão ao produto, como a adição de salmonella por exemplo. 

No lugar dela, deve-se preferir o consumo de palmito de pupunha (Bactris gasipaes) e com o manejo sustentável do seu fruto pode-se produzir a polpa de Juçaí que tem valor nutricional mais rico que o Açaí (Euterpe oleraceae) da Amazônia. A polpa congelada da Juçara já tem produção e venda no RS, SC, PR e SP. A polpa da Juçara é riquíssima em antocianinas (cianidina-3-glicosídeo) e compostos antioxidantes.

Euterpe edulis

Biodiversidade gerada a partir da Conservação da Juçara

Cerca de 70 espécies da fauna dependem do seu fruto para sobreviver, como por exemplo tatus, catetos e capivaras, além de aves como tucanos, sabiás, periquitos, maritacas, jacus e jacutinga, que atuam como dispersores das sementes e auxiliam no aumento da população de palmeiras.

Espécies de aves que se alimentam de néctar: tiriba-de-testa- vermelha (Pyrrhura frontalis), cambacica (Coereba flaveola) e saíra-lagarta (Tangara desmaresti).

 Espécies de aves que se alimentam do fruto: jacuaçu (Penelope obscura), juruva-verde (Baryphthengus ruficapillus), tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus), araçari-poca (Selenidera maculirostris), araçari-banana (Pteroglossus bailloni), tiriba-de-testa-vermelha (Pyrrhura frontalis), periquito-rico (Brotogeris tirica), cuiú-cuiú (Pionopsitta pileata), corocochó (Carpornis cucullata), sabiá-una (Turdus flavipes), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), sabiá-do-barranco (Turdus leucomelas), sabiá-coleira (Turdus albicollis), sanhaçu-do-coqueiro (Tangara palmarum) e maitaca-verde (Pionus maximiliani). 

A arte dos encontros para cocriação de projetos de regeneração

O Programa Juçara tem como objetivo valorizar economicamente a Palmeira Juçara em pé. Uma iniciativa da Fundação Florestal em parceria com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento Regional, Secretaria de Desenvolvimento Econômico (por meio do Programa Vale do Futuro), Instituto Florestal, Instituto Botânico, Ibama, universidades, prefeituras, entidades e empreendedores da sociedade civil, pequenos agricultores e comunidades tradicionais. 

O primeiro encontro para validação do processo de dispersão das sementes por meio do drone V1, especialmente desenhado para atender as demandas desse projeto, foi realizado no Parque Estadual do Carlos Botelho – Núcleo Sete Barras, na Terça-feira do dia 22/06 e contou com a presença de atores-chave para o desenvolvimento do Projeto. 

O Diretor Executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz, comentou sobre o Programa que foi pensado a longo prazo, com metas anuais crescentes que visam alcançar ao longo de 10 anos, um total de 48 mil hectares, 17 parques e reservas repovoados com um total de 600 mil sementes coletadas e utilizadas com o envolvimento das comunidades tradicionais, que beneficiará não só as comunidades de entorno como também a fauna local. 

O evento contou também com o Diretor Regional da Fundação Florestal, Danilo, que desde a década de 90, trabalha com a autorização do manejo da floresta e relatou acreditar muito no sistema agroflorestal. Fez uma ressalva a Resolução 189, criada em 2018 para trabalhar com o manejo sustentável da floresta no estado de São Paulo. Compartilhou com todos o sonho de ver a polpa do fruto da Juçara entrando no mercado com grande aceitabilidade e se tornando merenda escolar. Ele enfatizou que o Programa está só começando, e disse que o estado estará focado no trabalho de monitoramento do crescimento dessas sementes no decorrer dos próximos anos. 

Além de todas as presenças ilustres, como a do Gestor do Parque Carlos Botelho, Pietro e seu fiel escudeiro e funcionário Willian Godoy, acompanhados de sua equipe de voluntários e parceiros regionais, o gerente do Vale do Ribeira Donizete enfatizou a importância da preservação das Unidades de Conservação e a importância de toda sua riqueza, tanto na questão da preservação da variabilidade genética, quanto indicadores sociais que segundo ele, melhoraram muito nos últimos anos.

Esteve presente também o primeiro gestor do Parque Carlos Botelho em 1968, Dr. Guenji Kenji, que na época era um dos poucos qualificados com nível superior e um grande semeador das Araucárias que avistamos hoje pela área do Parque. Ele relatou que antigamente tinha muita Juçara de diferentes portes, pequena, média e grande espalhadas por toda floresta, por um processo de regeneração natural, onde era possível colher sem plantar. É importante percebermos as mudanças de paradigmas e para isso sabermos diferenciar algumas abordagens regenerativas. 

Regeneração natural

A regeneração natural é aquela que se dá sem a intervenção ou com mínima interação com seres humanos. É o que acontece com o ressurgimento da perna da salamandra ou com a recuperação de uma floresta ao deixá-la de “repouso” na ausência de elementos estressores como a criação de gado ou exploração da madeira.

Sistemas regenerativos

Já sistemas regenerativos são sistemas construídos com a intenção de estabelecer fluxos cíclicos capazes de, a partir de seus próprios processos funcionais, reporem a energia e os materiais utilizados em sua operação. 

Regeneração sistêmica

Por fim, temos a regeneração sistêmica ou co-evolucionária — nosso foco principal de investigação. Aqui a intenção é estabelecer um relacionamento íntimo e sinérgico de co-evolução dos sistemas humanos com os sistemas naturais. A regeneração sistêmica implica uma investigação profunda sobre o papel que eu e o meu projeto pode desempenhar a fim de facilitar a revelação e a realização de um potencial de ordem superior do lugar em que pertenço.

Um programa pensado para ampliar o  índice de desenvolvimento humano, gerando novas fontes de renda e emprego com a preservação ambiental de toda a biodiversidade local, incluindo todos os seus reinos vegetal, animal e fungi. Preste atenção na próxima vez que for caminhar na floresta, como o cenário fica muito mais lindo com as folhagens e presença da Palmeira Juçara.

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